2XKO, o game de luta da Riot Games que reúne os campões de League of Legends em confrontos de 2 contra 2, estava cozinhando desde 2019. Liberado nesta terça-feira (7) em acesso antecipado, ele foi concebido desde um início como um free-to-play (F2P) com microtransações, na intenção de revirar a comunidade do gênero.
A proposta é oferecer um título com mecânicas que não devem nada aos grandes games concorrentes, estrelado por personagens que muita gente adora, com um modelo de negócios acessível a todos. O caveat fica por conta das ofertas cosméticas, que como quem joga LoL e Valorant sabe há tempos, não pega leve com as finanças dos complecionistas compulsivos.
2XKO: pancadaria ao alcance de todos
2XKO foi um dos projetos tocados pela Riot Games para diversificar seu portfólio, que geraram o FPS Valorant, o autobattler Teamfight Tactics, a versão mobile de LoL, Wild Rift, e o card game Legends of Runeterra. Anunciado como Project L, ele foi uma empreitada que consumiu boa parte da dedicação do estúdio de Santa Monica, enquanto o ARPG Project F, que fora só mencionado também em 2019, continua no forno.
Paralelo a esses projetos, existiu também a finada Riot Forge, para terceirizar as marcas a outros estúdios, que trouxe o excelente RPG de turnos Ruined King, da Airship Syndicate (Battle Chasers: Nightwar), e o Metroidvania Convergence, da Double Stallion (Surfpunk, Speed Brawl).
A ideia de jogar os campeões de League of Legends em uma pancadaria desenfreada era até bem óbvia, se pararmos para pensar. Os personagens são carismáticos, com designs únicos e muitos deles são de fato artistas marciais; só que uma coisa é ter a vontade, e outra é executar a empreitada, os devs tinham que aprender os meandros e pormenores de um gênero que não dominavam, e que possui uma comunidade bastante crítica e exigente.
Na apresentação, 2XKO é mais um game que demonstra o quanto a Unreal Engine 5 é versátil, ao criar animações dos personagens em 3D que convencem bastante como um anime. A movimentação é bastante fluida, provida por ajustes nos quadros que vão até 120 fps, e a parte do áudio é muito agradável, com músicas e vozes bem executadas, inclusive em português brasileiro, com o mesmo elenco de dubladores de League of Legends.
Falando em elenco, o cast inicial é bastante comedido, em se tratando de um jogo de luta. Apenas 11 campeões estão disponíveis na primeira build acessível a todos, com Ahri, Braum, Darius, Ekko, Illaoi, e Yasuo os únicos liberados desde o início; já Blitzcrank, Jinx, Teemo, Vi e Warwick precisam ser desbloqueados, seja jogando ou gastando (mais sobre isso a seguir).
A Riot Games prometeu que o elenco será expandido com o tempo, e nenhum campeão será colocado exclusivamente atrás de um paywall, o que é bom; segundo a desenvolvedora, Katarina será a próxima lutadora a entrar na contenda.
Os controles, por sua vez, são bastante amigáveis para novatos em jogos de luta. Seguindo a tendência iniciada em SNK Heroines: Tag Team Frenzy, e aperfeiçoada em Street Fighter 6, você não tem golpes de comando. Os especiais são ativados usando um botão de ataque (fraco, médio ou forte) e o direcional, no chão ou no ar.
As super e ultra técnicas, que gastam barras de especial, são ativadas com combinações de botões, o mesmo valendo para a principal mecânica, a da troca entre lutadores. É possível usar seu parceiro também para realizar um ataque sem permanecer na tela, ativar a aparada (parry), e o empurrão, que funciona igual ao Combo Breaker da série Killer Instinct, te salvando no meio de uma surra.
O game possui um forte componente online, provido pelo netcode de rollback que funcionou sem problemas; você pode criar salas privadas e convidar amigos, ou desafiar jogadores diretamente, habilitando confrontos com 4 pessoas, onde cada um controla um campeão diferente.
Riot sendo Riot
A Riot Games, talvez por ser 100% controlada pela gigante chinesa Tencent, tem espaço de manobra suficiente para oferecer 2XKO da mesma maneira que todos os seus games principais, ele é um Jogo Como um Serviço (GaaS) de acesso gratuito, apoiado em um modelo de negócios com microtransações diversas.
Trata-se da mesma estratégia que a Blizzard hoje usa com Overwatch 2, e a também big tech chinesa NetEase, concorrente direta da Tencent, aplica aos vários títulos F2P que distribui, como Marvel Rivals, mas é raramente vista em um jogo de luta; dois dos primeiros títulos a adotar tal modelo foram os fracos Tekken Revolution e SoulCalibur: Lost Swords, lançados pela Bandai Namco respectivamente em 2013 e 2014, e descontinuados em 2017 e 2015.
No entanto, se você joga ou já jogou LoL, Wild Rift, Valorant e/ou Teamfight Tactics, sabe que na hora de convencer o jogador a gastar a Riot não pega leve. Com 2XKO, claro, não foi diferente.
Primeiro, vamos falar dos campeões em si. Como dito lá em cima, somente alguns estão desbloqueados desde o início, e para liberar os outros, você usa duas das moedas diferentes do game, os Créditos, que são gratuitos e você junta jogando partidas online, cumprindo missões diárias e semanais. Cada personagem custa 10.000 Créditos, e é possível ganhar por volta de 2.800 por semana.
Ou seja, quem não quiser gastar de forma alguma terá que jogar bastante, para garantir pelo menos um novo campeão por mês; embora seja um método de investimento real de seu tempo, é melhor do que ter que comprar DLCs para aprender os macetes de novos campeões, e desenvolver técnicas para enfrentá-los quando jogando com outros online.
Você até pode jogar com todos os campeões desbloqueados, mas apenas no modo offline, que suporta vs local; é preciso acessar a pasta de arquivos de 2XKO e ativar o executável correspondente.
O único problema, não é possível acumular mais que 12.000 Créditos por vez; ao chegar a esse limite você será obrigado a gastá-los, seja com campeões ou com cores variantes (6.500 cada) para continuar ganhando mais.
Os KO Points por sua vez são a moeda premium, e só é possível adquiri-los gastando dinheiro real. Eles permitem comprar campeões (1.000 cada), e liberar os tiers pagos do Passe de Batalha (é claro que tem um), mas o foco serão as skins, os visuais variantes para os lutadores.
A Riot Games foi particularmente malvada em um primeiro momento, e amarrou os tão esperados designs inspirados na série animada Arcane, à versão mais cara da Edição de Iniciante de 2XKO, que custa acachapantes R$ 400; o pacote inclui outros itens, como uma quantidade considerável de KO Points e de Emblemas de Campeão, que permitem desbloquear lutadores imediatamente (você ganha um ao concluir o Tutorial).
A desenvolvedora diz que os trajes baseados em Arcane serão futuramente incluídos na loja rotativa, afinal, não é um F2P com microtransações se não estimular o famigerado FOMO, incutindo no público o desejo de gastar muito e de forma constante, de novo, nada que os jogadores de League of Legends, Valorant, outros games da Riot não tenham visto antes.
O grande risco desse modelo de monetização desenfreada é despertar a ira da comunidade dos jogos de luta (FGC), formada por um bando de jogadores bem avessos a ideias que destoem do que deve ser o foco principal, entregar um game mecanicamente bem estruturado e equilibrado.
Por enquanto a disparidade de poder entre campeões é notável, e a curva de aprendizado pode ser um tanto íngreme para os novatos, enquanto os veteranos já estão, previsivelmente, tomando a dianteira das leaderboards, mesmo com 2XKO estando tecnicamente incompleto, e restrito temporariamente ao Windows; ele deve chegar no futuro ao PS5 e Xbox Series X|S, mas ainda não há uma data confirmada.
Por fim, o Vanguard. O sistema anti-cheat da Riot Games, que roda no nível do kernel do Windows, é o centro de inúmeras críticas desde que foi introduzido com Valorant em 2020, adicionado a LoL em 2024, e agora também presente em 2XKO. Por ter acesso profundo ao sistema operacional, e não rodar se não for incluído nas regras de execução ao iniciar o PC (ele não pode ser ativado manualmente), ele é criticado como uma porta aberta que pode ser explorada por hackers experientes, que terão acesso quase irrestrito ao PC do usuário.
A Riot defende o uso do Vanguard, e insiste que o software é seguro, mas sinceramente, não há como justificar a existência de um anti-cheat tão invasivo, quando tantos outros games usam métodos menos comprometedores.
Conclusão
2XKO tem potencial para ser a próxima sensação da FGC, com direito a um lugarzinho ativo na EVO e outros torneios, se a Riot Games aproveitar o momento de acesso antecipado e corrigir bugs, e mais importante, ajustar o equilíbrio entre os campeões, que no momento não é lá essas coisas. Há potencial, claro.
Já o jogador precisa, como sempre é necessário ao lidar com jogos F2P com microtransações, gachas e afins, tomar muito cuidado para não cair em armadilhas e sair gastando o que não tem; se o foco é liberar os lutadores e treinar para dominá-los, basta reservar tempo na agenda para jogar.
No mais, 2XKO ainda tem tempo para se aprimorar até o lançamento oficial, quando ele deve chegar aos consoles de mesa, para figurar entre os grandes títulos de luta de companhias como Capcom, Bandai Namco, Arc System Works, SNK e NetherRealm Studios, e outros menores mas com público cativo, como Granblue Fantasy Versus: Rising.
A Riot já mostrou que não se limita ao MOBA, e pode entregar produtos de qualidade em outros gêneros, e 2XKO pode ser uma de suas apostas mais bem sucedidas, desde que joguem as cartas certas… e não avancem com afinco demais nas carteiras alheias.
2XKO — Ficha Técnica
- Plataforma — Windows;
- Desenvolvedora — Riot Games;
- Distribuidora — Riot Games;
- Classificação indicativa — 12 anos.
Pontos Fortes:
- É possível liberar novos lutadores apenas jogando;
- Netcode de rollback bem estável;
- Localização bem feita, em texto e vozes;
- Acesso gratuito, e isso é bom.
Pontos Fracos:
- Monetização de mão pesadíssima;
- Elenco inicial enxuto demais;
- Riot insiste no problemático anti-cheat Vanguard.
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