Vibe Coding é um termo bem recente, cunhado em 2025 por Andrej Karpathy, que basicamente significa programar usando LLMs e assistentes de IA, algo que está se tornando cada dia mais comum, e mais eficiente. Estima-se que em 2025 41% de todas as novas linhas de código criadas tenham surgido via IA. Satya Nadella, nosso indiano favorito, revelou que 30% do código produzido na Microsoft vem de IA.
“C facilita atirar no próprio pé; C++ torna isso mais difícil, mas, quando acontece, explode sua perna inteira.”
Bjarne Stroustrup

Aprender o básico é essencial (Crédito: Domínio Público)
De um certo modo estão realizando a promessa de um antigo gerador de relatórios para dBase, que anunciava com a chamada “despeça seu programador”. Reza a lenda que nos Anos 80 um sujeito fez realmente isso, comprou o software, demitiu a equipe e achou que ele resolveria tudo sozinho.
Outro causo famoso foi um sujeito que comprou um Apple II, pagou caro, kit completo. Seguiu as instruções, deu boot, e no prompt digitou “Folha de pagamento”. No dia seguinte apareceu devolvendo o computador.
Vibe Coding na ficção é um conceito bem antigo. Em Star Trek, de 1966, os tripulantes da USS Enterprise descrevem os problemas para o computador, que constrói os algoritmos e o software internamente, só retornando os resultados. Claro, em Wolf in the Fold (S02E07) Spock derrota a Entidade Alienígena Maligna da Semana que havia possuído o computador, pedindo para que ele calcule o último dígito de Pi, mostrando que os roteiristas da série não entendiam muito de computadores.
Sua origem é bem mais humilde, claro. Originalmente tivemos o primeiro auto-complete com o Turbo Pascal, depois o Borland C++ evoluiu a tecnologia. Com o IntelliSense do Visual Studio era possível ver e autocompletar a sintaxe de funções inteiras, o que já facilitava muito a nobre arte da programação.
Nessa época surgiram muitos programas que visavam auxiliar na produção de código “boilerplate”, nome dado ao amontoado de linhas de programação que são muito semelhantes em qualquer programa, sejam bibliotecas, interfaces, protocolos, etc.
Ao invés de codificar na mão todos os elementos de uma interface, você diz ao gerador onde quer cada elemento, qual função ele chama, quais variáveis e parâmetros exibem, e o gerador cria todo o código padronizado, com seus parâmetros específicos. E também tínhamos ferramentas como o FoxPro, para bancos dBase:
A Grande Revolução do Vibe Coding
Em 2021 a Microsoft anunciou o Github Copilot, um assistente baseado no GPT-3 da OpenAI, que era capaz de escrever código, após ter sido treinado na imensa base de dados do GitHub.
Subitamente a parte chata da programação desapareceu, era possível criar as rotinas repetitivas e entediantes de forma automática, e isso foi apenas o começo.
As ferramentas foram se aperfeiçoando, e hoje chegamos a um ponto onde um LLM consegue dialogar efetivamente com o usuário, ao invés de executar cegamente o que é pedido.
Como os modelos de IA são treinados com bilhões de softwares e scripts, linguagens, algoritmos e lógica, eles “entendem” as solicitações melhor que um humano normal, e por deter todo o conhecimento de funcionalidade e sintaxe, você não precisa guiá-los passo a passo.
No meu dia-a-dia eu faço bastante processamento de vídeo, conversão de formatos, essas coisas. Eu uso o FFMEG, um programa maravilhoso que é a base de 99% de todos os programas de conversão de vídeo existentes. O problema é que sua sintaxe é monstruosa, e eu não tenho paciência de ficar fuçando manual o dia inteiro.
É trivial usar o Grok ou o ChatGPT para vibecodar comandos que normalmente exigiriam a leitura de páginas e páginas de documentação, isso salva muito tempo.
IAs também são ótimas para trabalhar com linguagens onde não temos muita familiaridade com a sintaxe, os usos são inúmeros, e o Mercado está percebendo isso. A Accenture tem quase 800 mil funcionários, está investindo perto de US$1 bilhão para capacitar todo mundo no uso da ferramenta, e Julie Sweet, CEO da empresa disse que os que não se adaptarem ao uso de IA, bem… vão rodar.


A Julia é Sweet mas não é mole não. Passaralho da IA vem aí. (Crédito: Reprodução Internet)
Parece algo bruto de ser dito, mas a Accenture cresceu 7% no último ano e atribui boa parte desse crescimento ao investimento precoce em IA.
O buraco da IA é mais embaixo
Nem tudo são flores, claro. Uma pesquisa da McKinsey & Co. revelou que 78% das empresas estão usando IA em alguma parte de seu fluxo de trabalho, entretanto 80% não reportaram ganhos significativos de produtividade.
Pior ainda: Segundo o MIT, 95% das empresas que implantaram projetos-piloto de uso de IA falharam em traduzir isso em lucro.
Será o fim? Os haters estavam certos, IA não passou de uma moda passageira, como o Morango do Amor, a Forever 21 e as vacinas? Voltarei a criar fakes da Emma Watson usando Photoshop, tal qual os neandertais faziam?
Não. Essas estatísticas são puro FUD (sigla em inglês para Medo, Incerteza, Dúvida), uma velha tática de guerra psicológica. A taxa de sucesso de adoção precoce de qualquer tecnologia nova é muito baixa. As pessoas querem o novo sem saber como utilizar, para que serve, ou quais as limitações. Blockchain, estou olhando para você!
Os detratores da IA e do Vibe Coding estão apontando essas pesquisas como prova de que a tecnologia fracassou, mas esse nem é o problema real. IA e Vibe Coding irão causar desastres, mas a culpa não é da tecnologia em si.
Recentemente um aplicativo brasileiro que seria um Tinder só para mulheres implodiu de forma épica, com falhas de segurança óbvias e gritantes, deixando claro a inexperiência dos desenvolvedores envolvidos, e o uso de vibe coding, evidenciando uma das máximas da informática:
“O Computador faz o que você manda ele fazer, não o que você quer que ele faça”
Um dos grandes problemas de qualquer sistema está lá no começo, na especificação. Quando você explica o que quer, o que precisa, suas regras de caso/uso, etc. Se você não for competente nessa parte, ou se o cliente mudar as especificações o tempo todo, seu sistema se tornará uma colcha de retalhos de funções escritas nas coxas e IFs tentando manter a coisa funcionando.
E esse é o problema. O Jovem™ não sabe modelar um sistema do zero. Eles saem das faculdades só programando em IDEs que entregam tudo pronto, reutilizando código que não compreendem. Não há mais a figura do micreiro, do fuçador, do programador que conhece cada detalhe da arquitetura do computador. Uma vez vi uma Analista de Sistemas da Petrobrás vendo um PC aberto e perguntando “o que são esses quadradinhos pretinhos?”
Os LLMs estão cuspindo sistemas cada vez mais complexos, especificados por gente cada vez mais simples, já há estudos apontando para a total desconsideração com segurança, por parte de ambos. A IA não tem culpa, se ninguém pedir ênfase em segurança, ela não vai decidir sozinha. Já os “desenvolvedores” são ingênuos, inexperientes ou apenas burros demais para pensar nisso.
No colégio os professores não deixavam a gente usar calculadoras; o argumento era que a gente nem sempre teria uma calculadora por perto. O Futuro mostrou que estavam errados, duplamente. O argumento não deveria ser esse. A calculadora é só uma ferramenta, se você não souber como ela funciona, não adianta nada.
O uso de calculadoras deve ser adiado nas escolas, para que as crianças aprendam a realizar as operações por conta própria, com seus próprios cérebros. Só então podem usar a ferramenta, do contrário tudo vira uma caixa-preta, e já vemos isso direto. Arrisco chutar que 99% dos “developers” hoje em dia nunca chegou num nível tão baixo quanto o Bem Eater, com seu maravilhoso canal onde demonstra didaticamente o funcionamento de CPUs, memórias, etc, construindo e aprimorando um computador 6502 direto na breadboard. Eu que sou macaco-velho, aprendi muito com ele.
A Vibe Coding é uma calculadora elevada a enésima potência. Não, ela é um sabre de luz. Pode ser uma arma elegante, para tempos mais civilizados, ou mais provavelmente você vai arrancar seus dedos nos primeiros dez minutos. Um programador medíocre ou iniciante vai criar produtos horrendos e inseguros, sequer funcionais. Um programador mediano vai dizer que IA não adianta ou acelera nada, já um programador imaginativo e competente vai ver seu trabalho voa, sua produtividade indo para as nuvens.
Exemplo
Nas minhas brincadeiras com IA, usando o ComfyUI, eu precisei de um node para exibir o número do frame corrente, sobreposto à imagem. No FFMPEG isso é tranquilo, o comando é:
ffmpeg -i input.mp4 -vf “drawtext=text=”%{frame_num}”:x=10:y=10:fontsize=24:fontcolor=white:box=1:boxcolor=black@0.5″ -c:a copy output.mp4
Só que no caso do ComfyUI, eu teria que aprender a API dele, a sintaxe dos nodes, como receber os parâmetros de imagem, carregar fontes de sistema, bibliotecas para escrever na imagem, regras de desenvolvimento do ComfyUI, as bibliotecas de Javascript que ele usa, e -cansou? Eu também. Resolvi apelar para o Grok. Descrevi em detalhes minha aplicação, o ambiente, os parâmetros e o resultado esperado.
O infeliz me gerou um node funcional na primeira tentativa.


Se é pra Vibecodar, que seja divertido! (Crédito: Grok)
Partindo do node funcional, resolvi sofisticar, em minutos, poucos minutos em caprichei na fofoletização do meu node, com muito mais recursos de estilo que o FFMPEG.
Muitas opções. (Crédito: Grok)Ficou tão chique que criei um projetinho e subi pro GitHub, disponibilizando como Open Source, Richard Stallman ficaria orgulhoso.
É algo aparentemente bem simples, mas não existia em lugar NENHUM da Internet. Com Vibe Coding resolvi em minutos, mas eu sabia o que estava fazendo.
Concusão
Vibe Coding, como toda tecnologia, é amoral. Não veio para prejudicar ou glorificar ninguém. Só que ela não tem nenhuma obrigação ou capacidade de te proteger de si mesmo. Aprenda a base, aprenda dos primórdios, estude lógica, compre um aquário. Saiba fazer bem, para saber pedir bem. A IA é tão inteligente quanto quem está especificando o que quer que ela faça. Ela é boa, mas não faz milagre.
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