O Banco do Brasil (BBAS3) lançou nesta terça-feira (21) um novo programa de renegociação de dívidas rurais, em um esforço para controlar a inadimplência do setor e, assim, melhorar os seus resultados.
💲 A renegociação será realizada com base na MP (Medida Provisória) 1.314 de 2025, que liberou R$ 12 bilhões para a renegociação de dívidas rurais com condições especiais, sobretudo para pequenos e médios produtores afetados por secas e enchentes.
A expectativa da CEO do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, é de que aproximadamente metade desse valor vá para clientes da instituição. Afinal, o BB é o principal ofertante de crédito rural do Brasil. E contava com cerca de 48 mil clientes inadimplentes no início de setembro, quando a MP foi assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A CEO espera, portanto, que a MP ajude no “processo de retomada de resultado” do BB, que viu seu lucro despencar nos últimos dois trimestres devido ao avanço da inadimplência e das provisões contra perdas.
O que é possível renegociar?
🌱 A MP oferece condições especiais para o produtor rural liquidar e amortizar operações de custeio, investimento e CPRs (Cédulas de Produto Rural).
Segundo o BB, será possível renegociar até dívidas que já foram prorrogadas, renegociadas ou que estejam adimplentes, em regiões impactadas com perdas de safra decorrentes de eventos adversos e que causaram aumento do endividamento.
Em nota, o BB disse ainda que “o valor a ser regularizado será definido conforme a necessidade e situação de cada cliente”. Já o prazo de pagamento pode chegar a nove anos, incluindo um ano de carência.
As condições
A renegociação lançada nesta terça-feira (21) utiliza recursos livres do Banco do Brasil.
Segundo a MP, neste caso o foco está em produtores que precisam de financiamentos superiores a R$ 3 milhões e a taxa de juros é definida pelas instituições financeiras.
O Banco do Brasil não informou suas taxas. Contudo, prometeu lançar “em breve” a regularização de operações com o uso de recursos subsidiados, que deve focar em financiamentos de menor valor.
Neste caso, a MP estabelece os seguintes limites de crédito e taxas de juros:
- R$ 250 mil, com taxa de juros de 6% ao ano, para agricultores familiares;
- R$ 1,5 milhão, com taxa de juros de até 8% ao ano, para médios produtores;
- R$ 3 milhões, com taxa de até 10% ao ano, para os demais produtores.
“São condições que trazem alívio no fluxo de caixa e previsibilidade financeira para o produtor rural, seja ele um agricultor familiar, médio ou grande produtor”, afirmou o vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do BB, Gilson Bittencourt.
Segundo ele, “o objetivo do BB é ajudar as famílias e as empresas do campo a renegociar suas dívidas, regularizar suas obrigações e retomar a produção”.
Tanto que o banco ainda promete oferecer “outras possibilidades de soluções de dívidas” para os produtores ou cooperativas cujos débitos não se enquadrem nos critérios da MP.
“O agro é estratégico para o Banco e vamos seguir apoiando o setor com responsabilidade e visão de longo prazo”, disse Bittencourt.
Resultados do BB
📉 Diante da alta da inadimplência no agronegócio e das provisões, o lucro do BB caiu 20,7% no primeiro trimestre e afundou 60,2% no segundo trimestre de 2025. Com isso, o banco ainda reviu as projeções para este ano, reduziu o payout e adiou o pagamento de dividendos.
O resultado do terceiro trimestre, que será apresentado no próximo dia 12 de novembro, ainda deve ser pressionado por esse cenário. Contudo, a CEO do BB já projeta resultados um pouco melhores a partir do quarto trimestre.
Em relatório, a Genial Investimentos reforçou recentemente que o efeito econômico da MP 1.314, sobretudo em capital e em menor necessidade de provisionamento, tende a ser mais perceptível em 2026, dada a defasagem entre execução e reconhecimento contábil.
Diante disso, a Genial projeta mais uma queda do lucro e da rentabilidade do BB no terceiro trimestre. A expectativa é de um lucro líquido de R$ 3,4 bilhões, 64% menor que o do mesmo período de 2024 e 9,4% inferior ao “já fraco 2T25”. Já o ROE (retorno sobre o patrimônio) deve recuar para 7,4%, pelos cálculos dos analistas.
Para o acumulado de 2025, a Genial projeta um lucro de R$ 21,2 bilhões, o que representaria uma contração de 44,1% do lucro anual do Banco do Brasil.
“Em nossa visão, a combinação de um custo de crédito elevado e de uma geração de receitas mais comprimida deve exercer forte pressão sobre a rentabilidade em 2025. Projetamos para o ano um ROE de 11,1%, queda expressiva de -9,74pp a/a, com perspectiva de recuperação gradual nos anos seguintes, à medida que a inadimplência se estabilize e o ciclo do crédito agrícola seja normalizado”, disse a Genial.
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