A disputa sobre quem vai ficar com o ônibus espacial Discovery continua. Semanas atrás, congressistas do Texas conseguiram enfiar um adendo na lei orçamentária do presidente dos EUA Donald Trump, que determina a transferência do shuttle para o Centro Espacial Johnson em Houston, tirando-os das mãos do Instituto Smithsonian e o devolvendo à NASA.
Agora os mesmos políticos, liderados pelo senador republicano Ted Cruz, querem que o Departamento de Justiça (DoJ) investigue o instituto por supostamente violar uma lei anti-lobby, de modo a garantir que o Discovery permaneça no estado da Virgínia.

Mover o Discovery de Virgínia para o Texas não seria nada simples. Nem barato (Crédito: Dane Penland/Smithsonian National Air and Space Museum, National Air and Space Museum Original Photography, NASM Acc. 2013-01345)
Discovery e o cabo-de-guerra
Os políticos do Texas nunca digeriram a NASA ter renunciado a administração de quase todos os shuttles, os cedendo para museus espalhados do país, enquanto manteve o único que ainda lhe pertence, o Atlantis, na Flórida; o centro de Houston teve que se contentar com a réplica Independence, enquanto o protótipo Enterprise foi para o museu do USS Intrepid, e o Endeavour, para o Centro Científico da Califórnia.
Com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, e os republicanos garantindo maioria em ambas casas do Congresso norte-americano, três políticos texanos do partido, o congressista Randy Weber, e os senadores John Cornyn e Ted Cruz, este o presidente do Comitê de Comércio, Ciência, e Transporte do Senado, inseriram um “jabuti” de última hora (os americanos também têm um termo para isso, “rider“) na One Big Beautiful Law, a lei orçamentária, determinando “a transferência de um veículo espacial” para um centro da NASA “envolvido no programa espacial”, a fim de “colocá-lo em exibição pública”.
A inserção é ancorada em uma lei proposta por Cruz e Cornyn, que elege especificamente o Discovery como alvo, e com a One Big Beautiful Law aprovada, o Smithsonian fica tecnicamente obrigado a renunciar o controle do shuttle, e a devolvê-lo à NASA para ser exposto em Houston. O instituto se defende, dizendo que o Congresso não tem jurisdição e nem o direito de realizar uma desapropriação de um item privado de um museu, algo sem precedentes na história dos Estados Unidos.
Contudo, é preciso admitir que o segundo mandato de Trump está repleto de casos inéditos.


Ted Cruz e outros congressistas do Texas se valeram de um “jabuti” na One Big Beautiful Law para se apropriarem do Discovery (Crédito: Chip Somodevilla/Getty Images)
O Smithsonian e congressistas democratas começaram a se mover para questionar a legalidade do “jabuti” na Justiça, o que foi entendido como Cruz e cia. como uma manobra para desobedecer a uma lei assinada pelo presidente Trump, não importa se ele sabia da manobra ou não. Com isso, os membros do GOP estão recorrendo ao DoJ para que este endosse a transferência.
O grupo liderado por Cruz está cobrando do órgão uma investigação contra o Instituto Smithsonian, alegando que este violou uma lei que proíbe o lobby; a bancada diz que o museu “tem tomado ações afirmativas para se opor à transferência e relocação” do Discovery, ao fazer lobby junto aos Comitês de Apropriações e de Regras e Administração do Senado, e por coordenar com membros da imprensa para mover a opinião pública contra a One Beautiful Law, “espalhando desinformação sobre custos e logística” da empreitada.
O “como” transferir o Discovery de Chantilly para Houston é um dos pontos cruciais do rolo. A lei orçamentária determina a alocação de US$ 85 milhões (~R$ 456,8 milhões, cotação de 24/10/2025) para o translado e a construção de um novo prédio no centro de visitantes do Centro Espacial Johnson; o Smithsonian, no entanto, diz que só mover o shuttle custaria todo o budget e exigiria mais dinheiro, entre US$ 35 milhões e US$ 65 milhões (entre R$ 188,1 milhões e R$ 349,3 milhões), além de mais grana para o novo ponto de exposição.
Democratas chutaram anteriormente valores muito mais altos, de US$ 305 milhões (~R$ 1,6 bilhão) para o translado, e US$ 178 milhões (~R$ 956,8 milhões) para a construção de novas instalações adequadas em Houston, números que se encaixam nas acusações de Fake News de Cruz e cia., e provavelmente tirados do éter para desencorajar o movimento.
O senador Dick Durbin (DEM/Illinois), o que mencionou os valores altos da primeira vez, está se empenhando, com outros companheiros de partido, para melar a manobra de Cruz, ao apresentarem uma petição ao Comitê de Apropriações do Senado visando bloquear o financiamento da transferência do Discovery, a fim de mantê-lo em Virgínia.
Fora o custo da transferência, há toda a logística envolvida. A opção mais sensata seria usar um dos dois Boeings 747 modificados da NASA, originalmente para lançarem o Enterprise em testes de voo (por não ter motor, ele caía com estilo), e usados para transportar os shuttles a seus destinos, mas eles também não voam desde 2013; o em Houston, exibido com o Independence nas costas, foi inclusive desmontado e remontado, e nem se sabe se funciona.
Dito isso, o Smithsonian acredita que o plano de transporte envolve o mesmo procedimento, desmontar completamente o Discovery, levar as peças para Houston, e remontá-lo lá, o que para desentendidos seria um pesadelo logístico; no vídeo acima, Durbin e cia. tiram sarro de Cruz e Cornyn, os idealizadores do “jabuti”, chamando-o de “a ideia mais idiota” que já viram em todo o tempo que atuam como congressistas dos EUA, e que os republicanos “levariam pelo menos 10 anos” tentando descobrir o que encaixa no quê.
Cruz, por outro lado, é irredutível sobre o Smithsonian ser obrigado a obedecer à lei assinada por Trump, e pretende fazer de tudo para pôr as mãos no Discovery, logo, essa novela não vai acabar tão cedo.
Fonte: collectSPACE, Ars Technica














































































































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