Condomínios exclusivos para 60+ fazem sucesso no Brasil; veja imagens

“Eu vim para viver e não para morrer, por isso quero estar onde tem gente e alegria”. Foi com esse desejo que Thereza Taylor, 66 anos, decidiu, junto com o marido, trocar a antiga casa por uma nova em um condomínio pensado especialmente para pessoas acima de 60 anos. A tradutora, que ainda trabalha online, já havia vivido a experiência de cuidar de uma mãe idosa isolada em frente à TV. Não quis repetir o destino. “Aqui, tenho privacidade e, ao mesmo tempo, uma comunidade que me estimula. Virei uma espécie de agitadora cultural”, diz com alegria.

O lar de Thereza é a Agerip, em São José do Rio Preto (SP), no interior de São Paulo, um dos primeiros empreendimentos de senior living no país. Inspirado em modelos já consolidados nos Estados Unidos, Canadá e Europa, o conceito vai além das tradicionais casas de repouso ou Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs). A ideia é oferecer moradias independentes, com serviços sob demanda, áreas comuns adaptadas e atividades que incentivam autonomia, socialização e bem-estar.

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Criada há quase 50 anos, a Agerip nasceu do sonho do comendador Correa Leite, que adquiriu um terreno de 16 alqueires com um grupo de amigos para “envelhecer junto”. Após sua morte, o projeto quase foi interrompido, mas ganhou fôlego graças a Maria Cândida Pereira Azem, a Candinha, que viajou ao Canadá para conhecer modelos semelhantes e trouxe a inspiração que ajudou a formatar a instituição atual. Hoje, a associação sem fins lucrativos abriga chalés construídos em comodato, apartamentos e suítes para quem precisa de mais apoio, além de restaurante, hortas, auditório e uma intensa agenda de eventos. “Nosso objetivo é mostrar a essas pessoas que elas estão vivas”, resume Candinha.

Mercado promissor

Se a Agerip foi pioneira, o mercado agora atrai grandes incorporadoras. Segundo estudo da Brain e da Caio Calfat Real Estate Consulting, até 2050, 30% da população brasileira terá mais de 60 anos, o que abre um mercado bilionário para empreendimentos adaptados para a geração prateada. O IBGE confirma a curva: a proporção de idosos quase dobrou desde 2000, passando de 8,7% para 15,6% da população em 2023.

Esse cenário despertou o interesse de executivos como Joseph Nigri, herdeiro e ex-CEO da Tecnisa, que deixou o comando da empresa e acaba de lançar a Naara Longevità Residence, em Higienópolis (SP). O projeto oferece apartamentos de alto padrão, serviços personalizados e foco no estilo de vida ativo. “Queremos que a pessoa tenha desejo de morar ali, não que vá porque precisa. É saúde, convivência, qualidade de vida”, afirma Nigri, que aposta no segmento premium com preços a partir de R$ 28 mil o metro quadrado.

A Vitacon também prepara um empreendimento do gênero, em parceria com a Housi, com VGV estimado em R$ 400 milhões. Serão cerca de 400 unidades em Higienópolis, entre 27 e 85 metros quadrados, com foco em moradores 60+. “As grandes cidades têm demanda crescente por soluções específicas para esse público. Queremos inspirar uma nova forma de morar”, afirma Ariel Frankel, CEO da construtora.

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Em Curitiba, o grupo Laguna aposta no Bioos, que une uma torre comercial para médicos e outra residencial para idosos. Inspirado no conceito de aging in place, o projeto busca oferecer independência com segurança. Os apartamentos são de 50 metros quadrados e contam com posto de saúde 24 horas, botão de emergência, pulseiras de monitoramento, além de piscina, academia, restaurante e sala de artes. “O desafio da terceira idade é o isolamento. Por isso, pensamos em uma estrutura que estimule a convivência em comunidade”, explica Gabriel Raad, presidente do conselho da incorporadora.

Já em Florianópolis, a DOM Senior Living estreia em 2026 no bairro planejado Pedra Branca com o LOMA, projeto de R$ 70 milhões. O empreendimento foi desenvolvido ao longo de 10 anos, com ênfase na gestão de serviços essenciais. “Cerca de 70% das necessidades desse público estão ligadas a saúde, nutrição e atividade física. O grande diferencial será a curadoria desses serviços”, afirma Renata Alves Stringhini, diretora executiva. A sócia Paula Lunardelli reforça ainda que “senior living não é para quem está doente, mas para quem quer continuar saudável e ativo.”

Regulamentação

Apesar do entusiasmo, especialistas alertam para os desafios. “Esses empreendimentos não se encaixam bem nas regras tradicionais de incorporação, locação ou prestação de serviços. É um modelo híbrido que exige um novo olhar regulatório”, afirma o advogado Eduardo Tristão, sócio do escritório Madrona Advogados. Como envolvem também saúde e hospitalidade, o setor deverá dialogar com normas da Agência Nacional de Saúde (ANS) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Mais do que um mercado promissor, o senior living representa uma mudança cultural. “O brasileiro só pensa em moradia especial quando não tem mais jeito. É preciso mudar isso e quebrar o tabu de falar de envelhecimento no Brasil”, diz Yang Yen Wang, CEO da BSL Saúde, empresa que conhece bem a realidade dentro das ILPIs. O grupo possui sete unidades da marca Cora, Vivace e Bem Viver e agora vai inaugurar nos Jardins, em São Paulo, um novo modelo chamado Cora Premium nos mesmos moldes de outro localizado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, com unidades separadas.

Tudo isso para que casos como o de Thereza e seu marido Brian continuem se multiplicando por todo o Brasil, mostrando que viver em um espaço planejado para o envelhecimento pode ser uma escolha de liberdade — não de limitação.

Quanto custam as novas moradias para idosos