O movimento de migração dos investidores da renda fixa para a variável não deve acontecer completamente no ano que vem. A afirmação é de um dos diretores da bolsa de valores, que acredita que 2026 ainda será o ano da renda fixa, mesmo com os índices recordes do Ibovespa (IBOV) nas últimas semanas.
Em entrevista ao Estadão, Gilson Finkelsztain, CEO da B3, destaca que o corte de juros das próximas reuniões não deve ser suficiente para uma mudança fiel no comportamento dos investidores que hoje preferem os títulos de dívida. Ele acredita que, para o fim do ano, a Selic deve ficar no patamar entre 11% e 12%, com um juro real de até 7%.
“Talvez não seja o suficiente para a gente ver uma retomada muito forte, mas certamente veremos um equilíbrio um pouco maior entre as classes de ativos. É muito difícil, com juros de 15%, haver atração de capitais para a renda variável”, afirmou. “Então, com uma trajetória de juros indo para 11%, 12% ao ano, a renda variável ganha representatividade. Ainda assim, vemos 2026 como o ano da renda fixa, devido ao juro real elevado de 7% ao ano”, salienta Finkelsztain.
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O executivo também comentou a cotação recorde de ativos como o ouro, que superou a faixa de US$ 4,3 mil por onça-troy nos últimos dias. Segundo ele, a movimentação se sustenta no preço elevado das bolsas ao redor do mundo e por um temor sobre vários ativos importantes, como as ações das big techs.
“Os múltiplos estão elevados, principalmente no setor de tecnologia. Há um temor da formação de uma bolha neste segmento, como a gente já viu outras vezes no início dos anos 2000. Então, entendo ser uma combinação de aspectos que leva o ouro para o patamar atual”, continuou Finkelsztain.
Ele ainda entende que uma recuperação do mercado de capitais depende de uma junção de vários fatores, a começar pelo comprometimento do governo com a meta fiscal. Finkelsztain destaca que não há uma pessoa que esteja sendo apoiada pelos entes do mercado financeiro, mas argumenta que um candidato que se mostre fiscalmente responsável pode ter o olhar deste setor.
“O mercado não tem um candidato favorito. No entanto, para termos uma Selic a 9%, o que tende a ser muito saudável para o mercado, a gente precisaria ter um compromisso dos candidatos à Presidência, ao final do próximo ano, que garantisse um orçamento com superávit fiscal“, finaliza o CEO.
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