Juros em patamares elevados somados a fatores comportamentais dos brasileiros têm causado uma verdadeira explosão na comercialização de consórcios de imóveis no país em detrimento dos financiamentos imobiliários.
De janeiro a junho de 2025 foram registradas mais de 590 mil adesões a consórcios de imóveis, um crescimento de 40,8% em relação ao mesmo período de 2024 que gerou R$ 118,1 bilhões em negócios, segundo dados da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcio (Abac).
Enquanto isso, os financiamentos imobiliários com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) caíram 10,4% em relação ao mesmo período de 2024, para R$ 73,6 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

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O relatório mostra ainda que, de janeiro a maio de 2025, a participação do consórcio nos mais de 233,69 mil imóveis financiados foi de 23,8%, um aumento de 4,7 pontos percentuais em relação ao mesmo intervalo do ano passado (19,1%), segundo relatório da Abac citando dados da Abecip. Em termos práticos isso significa dizer que um de cada quatro imóveis financiados usa consórcio atualmente.
Disparada
A disparada dos consórcios de imóveis não é exatamente nova. Um estudo publicado recentemente pelo Banco Central revelou que o segmento de imóveis registrou o maior crescimento entre as categorias de consórcios, com alta anual de 30% nas cotas vendidas, que ultrapassaram 998 mil.
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Os recursos coletados pelo sistema de consórcios inteiro cresceu 20,6% em 2024, para R$121,8 bilhões. O total de cotas comercializadas no ano passado atingiu 4,53 milhões, de modo que as cotas ativas em dezembro alcançaram a marca de 11,35 milhões, (crescimento de 9,7%), ainda de acordo com o BC.
“Quando o cliente se depara com as taxas de juros atuais, ele busca estratégias para desprender menos dinheiro com isso. E, do outro lado, nesses momentos de juros altos, os bancos sobem a régua na aprovação do acesso ao crédito imobiliário. Há pouco tempo a gente ouvia falar da Caixa financiando 80% do valor do imóvel, ou seja, o cliente tinha que ofertar 20% de entrada. Agora, os bancos financiam 70%, ou seja, o cliente precisa ter 30% de entrada. Dependendo do score do cliente, há bancos que pedem 50% de entrada. Então, o mercado passou a enxergar o consórcio como um meio para comprar um imóvel, mesmo com juros altos”, explica Robinson Assis, especialista de consórcios e sócio da The Hill Capital.
As parcelas do consórcio não tem incidência dos juros do financiamento imobiliário – atualmente no intervalo entre 11,29% e 13,50% ao ano, ou 0,94% a 1,13% ao mês, que é somado à Taxa Referencial (TR), hoje em 0,18% ao mês. Mas esta não é a única razão para o aumento de procura de consórcios: além da aversão aos altos juros do financiamento imobiliário e a necessidade de entradas maiores, a dificuldade do brasileiro de poupar e a familiaridade com os boletos alimentam a popularidade da modalidade, afirma Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos.
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“O brasileiro tem familiaridade com o fato de você pagar um boleto todo mês com um objetivo claro. Mais: existe um viés comportamental muito forte nesse sentido, que é o fato da pessoa saber para quê ela usa esse dinheiro. ‘É para comprar uma casa um dia’ ‘É para comprar um carro’. E é por isso que as gerações anteriores incentivam muito os mais jovens a aderir um consórcio, por conta desse compromisso definido”, explica Patzlaff.
Não tem juros, mas tem correção
Patzlaff relembra que, apesar das parcelas do consórcio de imóvel não sofrerem nenhum impacto dos juros imobiliários, elas são corrigidas pelo INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) – que hoje está em 7,19% no acumulado dos últimos 12 meses.
Tradicionalmente o valor do crédito contratado é corrigido anualmente pelo INCC acumulado, e as parcelas também sofrem essa correção, ou seja, em contrato de consórcio o valor do crédito aumenta anualmente e as parcelas também, inclusive após a contemplação.
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“A diferença é que o INCC tende a subir quando a taxa de juros básica, a Selic, cai. Essa característica aponta para um aumento na correção dos consórcios a partir do ano que vem, considerando a expectativa de queda na Selic“, alerta Patzlaff, que informa ainda que a Selic média do país historicamente fica no patamar de 13,83%.
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