King of Meat é o game de estreia do estúdio inglês Glowmade, formado por veteranos da Lionhead Studios (séries Fable e Black & White), e mais um título GaaS (Jogo Como um Serviço) distribuído pela Amazon Games. Inspirado em game shows competitivos, ele mistura os minigames caóticos de Fall Guys e combates frenéticos, a elementos sociais e doses generosas de humor negro.
Ele chega com o diferencial de ser um GaaS premium sem microtransações; tudo o que você precisa fazer para progredir é jogar, à moda antiga.
King of Meat se apresenta como um programa de TV, que reúne os gladiadores mais insanos em busca de glória, dinheiro, e 15 minutos de fama na telinha. Ele é similar aos desafios insanos de programas dos quais derivaram as Olimpíadas do Faustão; Fall Guys é hoje o game de maior sucesso inspirado nessa vibe.
A história do game, se é que podemos considerar que ele tem uma, se centra no programa King of Meat como o caminho mais curto para zés-ninguém alcançarem o estrelato, desafiando masmorras mortais e inimigos piores ainda, a fim de conquistar o público e ficar rico e famoso.
Seu personagem é só mais um entre os vários participantes, em um mundo onde todos querem ver sangue, explosões, e todo tipo de brutalidade gratuita no horário nobre.
Mecanicamente, King of Meat mistura plataforma com Hack ‘n Slash, onde 4 jogadores competem em masmorras para superar os desafios e armadilhas variadas, e enfrentar todo tipo de criaturas. Seu objetivo é se destacar à frente dos demais e ser aclamado pela plateia, o que se reverte em recompensas para serem usadas dentro do jogo.
Pense em Fall Guys, mas com elementos de jogos Souls-like e um nível de cooperação caótica e com consequências imprevisíveis, tal qual as melhores e mais divertidas edições do Wrestlemania. Aliado a isso, está o forte fator de customização que envolve os avatares e as próprias masmorras, a principal mecânica do game.
O modo de criação oferece uma série de ferramentas para que os mais criativos bolem estágios desafiadores, e é possível compartilhar suas obras-primas abertamente com todos os jogadores. Você acumula moedas ingame conforme joga, que podem ser usadas para customizar sua experiência com visuais, armas, e outros itens.
A praça central age como o hub de King of Meat, onde você pode comprar itens, interagir com NPCs e outros jogadores, e checar sua progressão. Até aqui ele se comporta como um GaaS comum, mas você deve ter notado que até o momento, eu não disse absolutamente nada sobre microtransações.
Isso porque, elas não existem.
Sinal dos tempos?
Jonny Hopper, Mike Green, e Adam Sibbick, os egressos da Lionhead Studios (a antiga desenvolvedora de Peter Molyneux) que fundaram a Glowmade, declararam várias vezes a decisão consciente de oferecer King of Meat como uma experiência premium, onde o jogador paga uma única vez pelo acesso ao game; tudo o mais, de cosméticos a outros itens, é adquirido jogando.
Ao mesmo tempo, é preciso notar o incomum comprometimento da Amazon Games, ex-Amazon Game Studios, em apoiar tal empreitada em um mercado que busca espremer o jogador de todas as formas, para incentivar que ele continue gastando. GaaS em geral são oferecidos como experiências free-to-play, e monetizados com caixas de recompensas/loot boxes, Passes de Batalha, ou sistemas de roleta/gacha, ou mesmo combinando alguns, ou todos esses elementos.
Porém, games premium com monetização posterior precisam ter um nível de investimento e compromisso que justifiquem o jogador a continuar abrindo a carteira, algo que títulos como Destiny 2 e Helldivers 2 tiveram sucesso, e outros como Foamstars e Concord falharam miseravelmente.
Isso nos traz a duas consequências recentes: a estafa dos jogadores, que estão ficando de saco cheio de jogos F2P com monetização até o talo, e a sombra crescente dos legisladores, que estão impondo regulações a games que atacam as finanças do público, especialmente crianças e adolescentes, com leis recentes aprovadas no Reino Unido, União Europeia, Brasil, e outras paragens; mesmo os Estados Unidos andaram descendo bordoadas em quem passa do limite.
Tendo isso em vista, desenvolvedoras estariam respondendo, cada uma à sua maneira. Jogos distribuídos pela chinesa NetEase, por exemplo, prezam pela monetização de cosméticos ao invés de abraçarem o sistema de gacha; a decisão da Glowmade de vender King of Meat, e não adotar nenhum tipo de monetização adicional, pode soar radical hoje, mas este é o modelo de negócios original do mercado de games, no qual ele se sustentou por décadas.
A Amazon Games, com o aporte da matriz gigante, pode e deve capitalizar em cima do game com campanhas de marketing agressivo, e ele foi nitidamente desenvolvido para ser uma atração para os tempos do streaming, o que também pode ser visto como um ponto negativo: visualmente King of Meat é bem derivativo, lembrando Fall Guys mais vezes do que deveria.
Ao mesmo tempo, muita gente andou reclamando do preço final fixado pelo game, de US$ 30 e valores equivalentes (no Brasil, R$ 150), com alguns vendo King of Meat como a “primeira vítima” da decisão da Team Cherry de cobrar apenas US$ 20 por Hollow Knight: Silksong.
O público tenderá a não mais considerar estúdios menores, especialmente os independentes, como dignos de cobrarem muito mais do que o equivalente a uma paçoca por games não-AAA, e/ou aqueles que verem como derivativos de cases de sucesso.
Conclusão
Com lançamento marcado para 7 de outubro de 2025, em um mês abarrotado de grandes títulos chegando às lojas, King of Meat não é mais que um dos azarões da vez, mas tem o potencial de atrair o público de games similares, e não dá para ignorar Fall Guys nem se quiséssemos.
A ausência de microtransações, enquanto boa parte do mercado aposta em forçar o jogador a gastar de forma contínua, é uma aposta em nome de atrair aqueles que se cansaram dos rumos atuais do mercado, ainda que uma parcela do público reclame do preço, ainda que um pagamento único, seja um tanto puxado.
A Amazon tem bolsos fundos o suficiente para apoiar King of Meat como uma nova forma de iteração social, semelhante aos games com os quais pretende competir, principalmente se focarem na característica distinta da produção da Glowmade, o foco social e em criação e compartilhamento de conteúdo ingame.
De resto, a desenvolvedora inglesa ganhou pontos suficientes para merecer um espaço no radar, e ficaremos de olho em suas próximas empreitadas.
King of Meat — Ficha Técnica
- Plataformas — PS5, Xbox Series X|S, Nintendo Switch, Windows (testado no PS5 Pro, com cópia cedida pela Amazon Games);
- Desenvolvedora — Glowmade;
- Distribuidora — Amazon Games;
- Classificação indicativa — 16 anos.
Pontos Fortes:
- Caoticamente divertido;
- Forte fator social, com criação e compartilhamento de masmorras;
- Zero microtransações, a carteira agradece.
Ponto Fraco:
- Visuais um tanto derivativos demais.
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