O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou os aliados do governo no Congresso que busquem uma punição ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pelo que considera como “traição” à pátria por articular sanções ao Brasil para tentar interferir no julgamento do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no Supremo Tribunal Federal (STF) pela suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
A cobrança foi feita durante a segunda reunião ministerial do ano realizada na manhã desta terça (26), no Palácio do Planalto, em que estiveram presentes ministros e representantes de estatais. Lula também cobrou seus ministros a reforçarem a defesa da soberania brasileira em suas falas e discursos.
“O que está acontecendo hoje no Brasil com a família do ex-presidente e o comportamento do filho dele nos Estados Unidos é uma das maiores traições que uma pátria sofre de filhos seus. Não existe nada que possa ser mais grave do que uma família inteira ter um cidadão custeado [fora] insuflando com mentiras e hipocrisias outro Estado contra o Estado nacional. Vamos ter que fazer isso, uma frente de batalha na política, não no governo, que o país seja respeitado”, disparou Lula.
O petista emendou afirmando que “não conheço na história que um traidor da pátria tenha a desfaçatez de mudar pro país que ele está adotando como pátria — os Estados Unidos — negando a sua pátria e tentando insuflar o ódio de alguns governantes americanos contra o povo brasileiro”.
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A reunião foi convocada às pressas na semana passada após o governo sofrer uma dupla derrota ao perder o comando da CPMI do INSS em meio a dificuldades de interlocução do governo com o Congresso, o tarifaço dos Estados Unidos aos produtos brasileiros e uma lenta melhora na avaliação da sua gestão. Lula também obrigou seus ministros a vestirem um boné azul com os dizeres “o Brasil é dos Brasileiros”, para reforçar o discurso de soberania do país.
Ainda durante a reunião ministerial, que foi aberta a imprensa nos primeiros minutos, Lula criticou o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil, afirmando que ele age “como se fosse imperador do planeta Terra”, e reforçou que seus ministros estão abertos à negociação “24 horas por dia”.
“É uma coisa descabida”, disse citando que o líder norte-americano continua fazendo “ameaças” ao mundo inteiro e que, na noite de segunda (25), ameaçou punir países que tentem regular as big techs.
Embora Lula não tenha citado diretamente, a fala de Trump pode ser considerada um recado ao governo brasileiro, que defende a regulação das plataformas de redes sociais e que enviará ao Congresso um novo projeto na esteira do que está em discussão por conta das denúncias feitas pelo influenciador Felca. Para o petista, Trump considera as “big techs” como um “patrimônio americano que ele não aceita que ninguém mexa”.
“Isso pode ser verdade pra ele, mas não para nós. Somos um país soberano com Constituição e legislação, e quem quiser entrar no nosso território tem que prestar contas à nossa Constituição e à nossa legislação”, completou.
Ele ainda mencionou a viagem que seu vice-presidente, Geraldo Alckimin (PSB), fará ao México à tarde a convite da presidente Claudia Sheinbaum para fechar novos acordos comerciais. A ministra Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento, o acompanhará na missão.
Defesa de Lewandowski e críticas às guerras
Em outro momento, após uma apresentação de Alckmin sobre os avanços do Brasil no comércio exterior, Lula prestou “solidariedade” ao ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública, que teve o visto americano suspenso pelo governo Trump.
“Por conta do gesto irresponsável dos Estados Unidos de cassar o teu visto. Eu acho que eles estão deixando de receber uma personalidade da tua competência e capacidade. É vergonhoso para eles. Essas atitudes [das sanções em geral] são inaceitáveis”, disparou.
Lula também aproveitou a reunião ministerial para criticar a nova política armamentista da Europa, afirmando que os bilionários investimentos poderiam ser revertidos para o combate à fome e às mudanças climáticas no mundo; disse que a guerra da Rússia contra a Ucrânia já se encaminha para o fim, mas que ainda não foi anunciado por falta de “coragem” de algum dos lados do conflito pela dúvida de “quem vai ficar com a dívida” pelos danos causados; e retomou a fala de que Israel continua a fazer um “genocídio” na Faixa de Gaza.
“Todo dia tem novidade, mais gente que morre, crianças ficam com fome e são assassinadas como se estivessem em guerra, como se fossem do Hamas. […] Ninguém toma atitude”, disparou voltando a defender a reforma da governança global pela Organização das Nações Unidas (ONU) com a entrada de novos membros para fortalecer o Conselho de Segurança.
Dificuldades de Lula
Lula tem dado sinais cada vez mais claros de que pretende disputar a reeleição em 2026, e vem realizando reuniões com partidos que integram parcialmente a base aliada – muitos deles já adiantaram que lançarão candidatos próprios ou apoiarão alguém da oposição. Entre eles, o União Brasil tem o governador goiano Ronaldo Caiado (União-GO) como pré-candidato, e o PSD já apontou que pode apoiar uma eventual candidatura do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).
O presidente petista também tem visto sua popularidade crescer lentamente após o seu homólogo norte-americano Donald Trump impor um tarifaço de 50% aos produtos brasileiros. No entanto, de acordo com a mais recente pesquisa Quaest de avaliação do governo, a desaprovação ainda supera a aprovação – são 51% a 46%, respectivamente.
Também pesa contra o governo a dupla derrota que sofreu na semana passada ao perder o comando da CPMI do INSS mesmo após os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), indicarem o presidente e o relator. A oposição, no entanto, conseguiu se mobilizar e realizar uma eleição que acabou derrubando-os e conseguiu eleger o senador oposicionista Carlos Viana (Podemos-MG) para presidir a comissão e o deputado Alfredo Gaspar (União-AL) para relatar os trabalhos.
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