O presidente da Argentina, Javier Milei, prometeu não mudar seu programa econômico de livre mercado após uma derrota retumbante no domingo para a oposição peronista de centro-esquerda na província de Buenos Aires.
A oposição peronista ficou em primeiro lugar nas eleições provinciais, conquistando cerca de 47% dos votos, em comparação com 34% do partido La Libertad Avanza, de Milei, com 91% dos votos apurados.
A votação na província de Buenos Aires, a maior do país e por décadas um bastião peronista, é vista como um indicador para as eleições de meio de mandato nacionais no próximo mês, onde Milei pretende reforçar o atual status minoritário de seu partido no Congresso para conter ainda mais a inflação e reduzir os gastos do governo.
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“Hoje sofremos uma derrota clara”, disse Milei, falando da sede de campanha de seu partido, nos arredores da capital provincial, La Plata. “Tivemos um revés eleitoral e temos que aceitá-lo.”
Em discurso, Milei insistiu que não se desviaria da busca por um superávit orçamentário ou das prioridades de política monetária e cambial de seu governo. Mas prometeu embarcar em uma “autocrítica profunda”.
“O resultado foi, sem dúvida, pior do que o consenso esperava”, disse Matias Montes, chefe de estratégia da EMFI Securities, referindo-se às expectativas dos investidores de que o partido de Milei poderia ter um desempenho superior ao esperado. Montes, no entanto, espera que a diferença de votos diminua consideravelmente para as eleições de meio de mandato de outubro.
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Quando as negociações abrirem na segunda-feira, os investidores argentinos estão prestes a sofrer perdas. Os operadores previam que uma derrota do partido de Milei por mais de cinco pontos desencadearia uma forte queda nos ativos locais.
Lar de mais de um terço da população da Argentina, a província de Buenos Aires historicamente se inclinou para a esquerda em apoio ao partido peronista, inclusive para a inimiga esquerdista de Milei, Cristina Fernández de Kirchner, que foi eleita para o Senado há duas décadas e agora está em prisão domiciliar após o Supremo Tribunal do país ter mantido sua condenação por corrupção.
Kirchner, que serviu por dois mandatos como presidente, de 2007 a 2015, inicialmente esperava concorrer a uma cadeira no senado provincial no domingo. Impedida de concorrer, ela dançou e acenou entusiasticamente para seus apoiadores de sua sacada na capital, momentos após a divulgação dos resultados preliminares.
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“Isso põe um fim a Milei”, disse Gabriel Katopodis, um dos candidatos peronistas na província.
Peso em Queda
Plataformas de criptomoedas apontavam para uma desvalorização do peso do país, mesmo antes da divulgação dos resultados, com o peso sendo negociado extraoficialmente acima de 1.400 por dólar americano, após fechar na sexta-feira a 1.355.
Os títulos em dólar da Argentina já vinham ficando atrás de todos os pares de mercados emergentes no último mês, com perdas de 5,5%.
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“A extensão da liquidação dependerá da reação do governo. Dada a magnitude da derrota, somente uma reorganização ministerial conterá a derrocada dos preços dos títulos”, disse Ramiro Blazquez, estrategista da Stonex. “Os libertários têm a chance de recuperar terreno em outubro se jogarem suas cartas corretamente. Mas precisarão repensar não apenas sua política econômica, mas, principalmente, sua estratégia política para retomar a iniciativa”, acrescentou Blazquez.
Na eleição do final de outubro, os eleitores renovarão quase metade do Congresso.
Milei enfrentou grandes obstáculos nas últimas semanas, chegando ao seu ponto mais fraco desde que o autodenominado anarcocapitalista assumiu o cargo no final de 2023. O próprio escândalo de corrupção de seu governo o atingiu antes da votação.
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No mês passado, a mídia local publicou mensagens de áudio vazadas nas quais o chefe da agência nacional para pessoas com deficiência, que já foi demitido, descrevia supostas propinas em compras de medicamentos que beneficiavam a irmã de Milei, Karina. Posteriormente, um juiz bloqueou a divulgação dos áudios de Karina. Uma fonte influente, ela atua como principal conselheira de Milei. O governo negou qualquer irregularidade.
Logo após o escândalo vir à tona, o presidente foi atacado com pedras durante uma aparição na campanha, enquanto violência esporádica eclodiu em outros locais antes da votação.
Enquanto isso, a segunda maior economia da América do Sul deve se contrair pelo terceiro mês consecutivo em julho, e os empregos formais têm apresentado um declínio sustentado desde janeiro. O peso argentino também despencou para níveis próximos a mínimas históricas.
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Cerca de 63% dos mais de 14 milhões de eleitores de Buenos Aires votaram no domingo para eleger metade dos 92 membros da Câmara Baixa, bem como os 46 membros do Senado na legislatura provincial. Vagas para o conselho municipal também estavam em disputa.
A eleição local normalmente atrairia menos atenção, mas ganhou importância nacional depois que Milei suspendeu as eleições primárias e o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, um peronista, desvinculou o voto local da eleição nacional de meio de mandato no mês que vem.
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