“Éramos inimigos da Venezuela”, disse Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, um ano atrás durante sua campanha para chefiar o país. A fala, quase em tom de pesar, refletia os esforços do presidente para isolar diplomaticamente Nicolás Maduro durante seu primeiro mandato na Casa Branca. Para ele, a gestão de Joe Biden teria enfraquecido o combate ao ditador venezuelano – deixando de lado, segundo a BBC, a possibilidade de uma “opção militar”.
A alternativa se tornou um pouco mais próxima nos últimos dias. Nesta semana, os EUA enviaram três destroieres de mísseis guiados Aegis e, depois, um esquadrão anfíbio para a costa da Venezuela, como parte de um esforço para enfrentar ameaças dos cartéis de drogas latino-americanos.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, pediu nesta quinta-feira (21) que os Estados Unidos e a Venezuela “diminuam as tensões, usem de moderação e resolvam suas diferenças por meios pacíficos”, disse a porta-voz da ONU Daniela Gross De Almeida.
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Veja, a seguir, o que se sabe até agora sobre a tensão entre EUA e Venezuela, o que levou ao cenário atual e que cada lado diz sobre essa questão.
Qual é a acusação?
Desde 2020, os EUA acusam Maduro e seus aliados de tráfico de drogas. Agora, a Casa Branca afirma que o governo Trump usará “todos os elementos do poder americano” para impedir que narcóticos cheguem ao país.
Em julho, Washington designou um grupo supostamente ligado a Maduro por apoiar a gangue Tren de Aragua e o Cartel de Sinaloa, do México, ambos classificados como organizações terroristas estrangeiras.
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O Bureau de Assuntos do Hemisfério Ocidental chegou a publicar no X, em 25 de julho, que usaria “todos os recursos à nossa disposição para impedir que Maduro continue a lucrar com a destruição de vidas americanas e a desestabilização do nosso hemisfério”. A postagem foi posteriormente apagada.
Segundo os EUA, o grupo Cartel de Los Soles seria formado por autoridades venezuelanas de alto escalão, incluindo o próprio Maduro. Em 2020, ele já havia sido formalmente acusado de narcoterrorismo.
O que diz Maduro?
Em resposta, Maduro rejeita as alegações, classificando-as como parte de uma campanha de difamação, e que Washington deveria se concentrar em reduzir o consumo doméstico de drogas.
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Em discurso na quarta-feira (20),e Maduro voltou a criticar os EUA: “Somos uma aliança de guerreiros pela paz. Se algo caracteriza essa época que estamos vivendo é o caráter cruel e a normalização da ameaça do uso de força. Estamos vivendo um cenário de frenesi enlouquecido de ameaças a granel. Acreditam que são donos do mundo. Acreditam que só uma palavra deles basta para que os povos se rendam e entreguem sua terra e pátria.”
Os EUA reconhecem Maduro como presidente?
Maduro, no poder desde 2013, foi declarado vencedor das eleições de julho de 2024 pela autoridade eleitoral e pelo tribunal superior da Venezuela. O resultado, no entanto, nunca foi acompanhado da divulgação detalhada das apurações.
Washington não reconhece a legitimidade da eleição. “O regime de Maduro não é o governo legítimo da Venezuela; é um cartel narcoterrorista. Maduro não é um presidente legítimo; é um chefe fugitivo, indiciado nos Estados Unidos por tráfico de drogas”, afirmou a porta-voz Karoline Leavitt em coletiva na terça (19).
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Os EUA oferecem recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura de Maduro — valor que, segundo a procuradora-geral Pam Bondi, reflete a gravidade das acusações. Até janeiro de 2025, a recompensa era de US$ 25 milhões.
EUA e Venezuela não fizeram acordo recentemente?
A escalada das tensões contrasta com um acordo fechado em julho para troca de prisioneiros, mediado pelo presidente de El Salvador, Nayib Bukele.
Na ocasião, 252 venezuelanos deportados dos EUA para El Salvador foram devolvidos ao governo de Caracas. Em troca, Maduro libertou 10 cidadãos americanos e um número não especificado de presos políticos, segundo Washington.
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O processo de negociação havia começado no início do ano, com o enviado especial Richard Grenell. Em diferentes rodadas, Maduro chegou a libertar seis cidadãos dos EUA, mas, de acordo com o New York Times, as conversas foram suspensas por divergências dentro do governo Trump.
E o petróleo?
As tratativas também envolveram a possibilidade de licenças para a Chevron e outras parceiras da estatal venezuelana PDVSA, permitindo operações limitadas no país sob sanções desde 2019.
Cinco fontes ouvidas pela Reuters em 24 de julho disseram que Washington avaliava flexibilizar restrições em troca de vantagens políticas. Uma autoridade do Departamento de Estado, porém, afirmou que nenhuma autorização seria concedida se implicasse em recursos entrando nos cofres de Maduro.
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A Chevron afirmou em nota que cumpre integralmente as sanções dos EUA.
Em fevereiro, Trump havia cancelado licenças de energia na Venezuela, incluindo as da própria Chevron, com prazo até maio para encerrar transações. A medida deixou operações de petróleo e gás sob controle direto da PDVSA, ainda que com produção relativamente estável.
O secretário de Estado Marco Rubio avalia permitir licenças parciais, mas negociando termos rígidos. Não está claro se companhias europeias como Eni e Repsol poderiam receber condições semelhantes.
Qual é o poderio militar dos dois países?
No momento, os EUA enviaram três destroieres de mísseis guiados e um esquadrão anfíbio para a costa da Venezuela, como parte de um esforço para enfrentar ameaças dos cartéis de drogas latino-americanos. Ao todo, as embarcações transportam 4.500 militares, incluindo 2.200 fuzileiros navais.

Na sexta-feira (15), a CNN divulgou que um submarino de ataque com propulsão nuclear, destróieres, um cruzador lança-mísseis e aeronaves de reconhecimento P-8 Poseidon também integrarão a missão, que ficará sob o comando do Southcom (Comando Sul).
Ao todo, o Exército norte-americano contra com 1,3 milhão de soldados ativos e cerca de 800 mil na reserva. Isso sem contar com o potencial nuclear do país, que tem mais de 5 mil ogivas. A Força Aérea possui mais de 13 mil aeronaves.
Já a Venezuela conta com 377 mil miliates na ativa e na reserva, além das Milícias Bolivarianas. As Forças Armadas do país tem 128 aeronaves em operação, das 230 existentes. A Marinha tem 34 embarcações.
(com Reuters)
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