A entrada do Mercado Livre (BDR: MELI34) no setor farmacêutico brasileiro pode mudar o jogo para o varejo de medicamentos no Brasil. Segundo analistas do Itaú BBA, a gigante do e-commerce deve avançar com força nessa frente e já em 2025 seu volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) deve ultrapassar sozinho todo o mercado de medicamentos no país. A expectativa é que, até 2030, a categoria farma responda por 6,5% do GMV da companhia.
Esse avanço acende um alerta para a RD Saúde (RADL3), líder no varejo farmacêutico responsável pelas marcas Droga Raia e Drogasil. Os analistas do Itaú BBA avaliam que a rede pode ver suas margens pressionadas em até 200 pontos-base ao longo dos próximos três a cinco anos. O motivo não seria exatamente a perda direta de clientes para o Mercado Livre, mas a necessidade de baixar preços para manter competitividade. Esse movimento lembra o que já aconteceu no segmento de higiene pessoal e beleza (HPC), onde a concorrência mais acirrada levou as grandes redes a repensarem suas estratégias.
O caminho natural para o Mercado Livre, diz o BBA, seria iniciar pelas vendas de medicamentos isentos de prescrição (OTC, na sigla em inglês). E a recomendação não é feita por acaso: essa categoria movimentou US$ 8,5 bilhões em 2024, com taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 13% entre 2021 e 2024, e já tem penetração on-line de 26% no Brasil, próxima ao nível dos Estados Unidos, de 27%, e acima da média global, de 20%.

Os analistas estimam que, se a participação on-line de medicamentos isentos de prescrição chegar a 35% até 2030 e o Mercado Livre mantiver sua participação de 42%, o volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) em OTC pode atingir US$ 2 bilhões, cerca de 3% do GMV da empresa no Brasil. O atrativo desse segmento está nas margens mais altas, próximas a 35%, enquanto os medicamentos sob prescrição (Rx) têm margens de 15% a 17%.
O mercado de Rx movimentou US$ 18,5 bilhões em 2024, com taxa de crescimento anual composta de 13,5% desde 2021, e participação on-line de 15%, frente a 6,5% em 2021. A expectativa é que essa participação on-line dobre até 2030, alcançando 30%, com o MELI34 ficando com 25% do segmento.
Isso faria com que os medicamentos Rx representassem cerca de 3,5% do GMV da companhia no Brasil. A categoria é mais complexa porque exige receita médica, retenção de parte das vendas e logística mais sofisticada. A experiência da Amazon nos Estados Unidos mostrou que escalar Rx é mais difícil do que OTC.
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Os analistas do Itaú BBA acreditam que o Mercado Livre terá maior participação em medicamentos de uso crônico, que correspondem a 55% a 60% do mercado de Rx e atendem clientes mais sensíveis a preço. Já nos casos de uso agudo, a conveniência ainda favorece as farmácias físicas.
Para a Raia Drogasil, a pressão de preços em OTC e Rx pode reduzir a margem bruta em até 2 pontos percentuais, segundo o Itaú BBA. Atualmente, os OTC representam 11% da receita da rede e os Rx, 54%. Considerando também o impacto em produtos de higiene pessoal e beleza (HPC), o efeito total poderia chegar a 3,3 pontos percentuais sobre a margem bruta, que está em 27,3% no acumulado dos últimos doze meses até o segundo trimestre de 2025.
Mesmo com essa pressão, os estrategistas avaliam que a RD Saúde tem espaço para compensar perdas. O Itaú BBA projeta que farmácias independentes, que operam com margens muito baixas, devem ser as mais atingidas pelo avanço do comércio eletrônico. Esses pequenos estabelecimentos tiveram R$ 35 bilhões em vendas em 2024, ou 17% do setor, mas com produtividade muito menor, cerca de 60 mil reais por loja ao mês, contra 720 mil reais das redes associadas à Abrafarma.
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A expectativa é que entre 25% e 45% dessas farmácias saiam do mercado, abrindo espaço para que a RD abocanhe parte dessa receita. Desde 2014, os independentes já perderam 13 pontos percentuais de participação, e a RD Saúde absorveu mais da metade desse volume, segundo cálculos dos analistas do Itaú BBA.
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