Muito além de cores e campanhas
Você já parou para pensar no quanto a diversidade movimenta a economia? Talvez, em algum momento, você tenha ouvido falar sobre o termo “pink money”, mas não tenha se aprofundado no que ele realmente significa. Pois bem, esse conceito vai muito além do arco-íris estampado em campanhas durante o mês de junho.
Estamos falando de um poder de consumo real e crescente, que não só aquece o mercado, como também desafia empresas a saírem do discurso e colocarem a inclusão em prática. A comunidade LGBTQIAPN+ movimenta bilhões de reais todos os anos e está cada vez mais exigente: não aceita mais ser lembrada apenas em datas comemorativas.
Neste artigo, vamos mergulhar nesse universo, entender a força econômica da comunidade LGBTQIAPN+, seus impactos no mercado de trabalho e como marcas e empreendedores podem se posicionar de forma autêntica, ética e inclusiva.
Pink money: a força de um mercado que exige respeito e coerência
O termo pink money (dinheiro rosa) se refere ao poder de compra da comunidade LGBTQIAPN+. E esse poder não é pequeno. Segundo o estudo Rainbow Homes, da Nielsen, entre os primeiros trimestres de 2023 e 2024, esse mercado movimentou R$ 18,7 bilhões no Brasil — um crescimento de 39%. No mundo, esse valor ultrapassa 3 trilhões de dólares.
O mais interessante é que o pink money não representa apenas uma fatia lucrativa da economia. Ele é também um sinal claro de transformação social. A comunidade LGBTQIAPN+ não busca apenas produtos ou serviços, mas respeito, segurança e representatividade.
E isso tem feito muitas empresas repensarem suas estratégias. Afinal, campanhas coloridas em junho não bastam. O público quer ver coerência o ano inteiro — nos bastidores, nas contratações, nos valores e, principalmente, nas ações.

Por que sua empresa precisa ir além do discurso?
Empreendedores atentos já perceberam que abraçar a diversidade não é só uma questão de justiça social, mas também uma oportunidade real de crescimento. Para quem deseja se conectar com esse público, o primeiro passo é escutar com empatia e criar experiências verdadeiramente inclusivas.
Moda, beleza, gastronomia, entretenimento e cultura são áreas com forte aderência ao público LGBTQIAPN+. Mas isso não significa que só esses nichos tenham espaço. A diversidade é uma força transversal, presente em todos os segmentos da economia.
Inclusive, os dados mostram que lares LGBTQIAPN+ compram mais online do que a média nacional. Cerca de 25% fazem compras de consumo rápido pela internet, enquanto em lares não LGBTQIAPN+ esse número é de 18%. O ticket médio também é maior: R$ 363 contra R$ 286.
Ou seja, além de movimentar a economia, essa comunidade dita tendências de consumo, especialmente no mundo digital.
Pink money no mercado de trabalho: desafios e oportunidades
Mesmo com todo esse potencial de consumo, ainda existe uma grande desigualdade no acesso ao mercado de trabalho formal. Um estudo apresentado pela GloboNews revelou que apenas 4,5% dos empregos formais são ocupados por pessoas LGBTQIAPN+, sendo que menos de 0,5% são pessoas trans.
Isso evidencia um problema estrutural. E começa lá no recrutamento, com linguagem excludente em anúncios de vaga, critérios engessados e falta de preparo dos gestores. Para mudar esse cenário, as empresas precisam agir.
Veja algumas ações que fazem a diferença:
- Adotar linguagem neutra em comunicações internas e externas.
- Estabelecer metas de inclusão claras.
- Criar canais seguros de denúncia e acolhimento.
- Ampliar a diversidade nas lideranças e conselhos.
Exemplos positivos não faltam. O Banco do Brasil foi pioneiro ao permitir o uso do nome social por funcionários trans. A Starbucks incluiu a transição de gênero no plano de saúde nos EUA. A Souza Cruz estende benefícios a casais homoafetivos. Essas atitudes não são cosméticas, mas sim estruturais — e o público percebe isso.
Atendimento inclusivo é diferencial competitivo
O jeito como você trata seu cliente fala muito sobre sua empresa. Isso inclui a linguagem usada, o visual das campanhas e a forma como cada pessoa é acolhida.
Empresas como a Air Canada já atualizaram seus protocolos para evitar expressões de gênero como “senhoras e senhores”. Hoje, eles usam saudações como “Bem-vindas, bem-vindos, bem-vindes” — uma mudança sutil, mas com grande impacto emocional.
Outro aspecto importante é a representatividade nas campanhas. Mostrar corpos diversos, identidades reais e histórias autênticas fortalece o vínculo emocional com o público. O apoio contínuo a eventos, como paradas LGBTQIAPN+ ou projetos sociais, também reforça esse compromisso.
Mas atenção: tudo isso precisa ser verdadeiro. O chamado pinkwashing — quando marcas usam a causa apenas como vitrine — pode gerar o efeito contrário: rejeição e desconfiança.
Empreender sendo LGBTQIAPN+: caminho de autonomia e resistência
Diante das dificuldades no mercado formal, muitas pessoas LGBTQIAPN+ optam pelo empreendedorismo como forma de sustento e afirmação. E não é por acaso. Segundo o Sebrae, 55% da comunidade já empreendem ou querem empreender nos próximos três anos.
Entre as pessoas trans e travestis, esse número sobe para 70%, sendo que 34% já têm um negócio ativo.
Mas nem tudo são flores. A burocracia para formalização, principalmente para quem não tem o nome social reconhecido em documentos, ainda é um obstáculo cruel. Além disso, o acesso ao crédito é limitado e o apoio técnico ainda não chega a todos.
Felizmente, iniciativas como a Feira Preta, Feira Tupissai, Casa 1, e projetos do Sebrae como o Empreende LGBT+ e o Transcender vêm ajudando a mudar esse cenário, com capacitação, mentorias e feiras voltadas exclusivamente à comunidade.
Dicas de gestão financeira para empreendedores LGBTQIAPN+
Se você já empreende — ou está começando agora — algumas dicas podem te ajudar a manter seu negócio saudável financeiramente:
1. Separe o pessoal do profissional
Nunca misture gastos da empresa com despesas pessoais. Isso ajuda a entender a real lucratividade do seu negócio.
2. Precifique corretamente
Leve em conta todos os custos e adicione sua margem de lucro. Um preço mal calculado pode sabotar sua operação, mesmo com boas vendas.
3. Monitore seu fluxo de caixa
Controle todas as entradas e saídas. Isso evita surpresas desagradáveis e ajuda no planejamento financeiro.
4. Reinvista com propósito
Guarde parte dos lucros para reinvestir no crescimento do seu negócio — seja em divulgação, qualificação ou melhorias no atendimento.

Iniciativas que fazem a diferença
Alguns projetos merecem destaque pelo impacto positivo na vida de empreendedores LGBTQIAPN+:
- Feira Preta Cria: capacitação para empreendedores negros, indígenas e LGBTQIAPN+.
- Feira Tupissai (Manaus): abre espaço gratuito para expositores LGBTQIAPN+.
- Casa 1 (São Paulo): feiras de empregabilidade e apoio psicossocial.
- Projeto Empreende LGBT+ (RN): oficinas de marketing, negócios e formalização.
- Programa Transcender (RJ): mais de 50h de capacitação com foco em diversidade.
- Diversitera: cursos online para capacitar grupos minorizados e ampliar acesso à renda.
Conclusão: Diversidade não é tendência, é urgência
O pink money é muito mais do que um número bilionário. Ele representa uma mudança profunda na forma como consumimos, empreendemos e construímos relações sociais. Se você tem um negócio — pequeno ou grande — e deseja crescer de forma ética e sustentável, incluir a diversidade na prática é o caminho.
Mais do que levantar bandeiras, o que realmente transforma são as ações diárias: contratar com justiça, atender com respeito, comunicar com verdade e oferecer espaço para que todos possam ser quem são.
Afinal, um mundo mais inclusivo não é só melhor para a comunidade LGBTQIAPN+ — é melhor para todo mundo.
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