Um estudo feito pela RepTrak e a Dynata mostrou que 39% dos brasileiros estão altamente ansiosos, – o nível mais alto dentre os 10 países pesquisados, ao lado dos EUA. Diversos motivos foram citados, mas 3 fatores se destacaram entre as preocupações.
Segundo a pesquisa, custo de vida, inflação e incerteza sobre o futuro são os principais pontos de estresse entre os brasileiros. Custo de vida e inflação foram citados por 72% das pessoas, enquanto incertezas sobre o futuro preocupam 68%. No mundo, esses motivos também seguem na liderança das aflições dos entrevistados, citados por 64%, 63% e 57%, respectivamente.
“Como mostrou a pesquisa, a ansiedade financeira é um fenômeno global e costuma estar ligada a fatores como inflação, custo de vida e incertezas sobre o futuro. As duas primeiras questões são macroeconômicas, e não estão exatamente nas mãos do indivíduo para provocar mudanças, o que gera bastante desconforto e ansiedade”, afirma Paula Sauer, professora da FIA Business School.
Quanto às incertezas, a professora destaca que o desgaste também está bastante relacionado à impossibilidade de controle da situação. “É como se diz na linguagem popular, é ter que trocar o pneu do carro com o carro andando. O mundo não para para que as pessoas analisem no detalhe cada variável do processo decisório”.
Assim, é preciso tomar inúmeras decisões financeiras ao longo da vida, das mais simples às mais complexas em um cenário dinâmico onde em segundos tudo pode mudar e as decisões podem perder o sentido.
Geração ansiedade
Para Robson Gonçalves, professor de Economia Comportamental nos MBAs da FGV, há também outro ponto a ser considerado na ansiedade das pessoas. De acordo com ele, as pessoas atribuem às questões financeiras um estado de ansiedade que já é crônico.
“As pessoas não sabem usar, por exemplo, redes sociais, tecnologia, mesmo streaming. As pessoas estão ansiosas por conta de um excesso de tecnologia. E aí elas começam a procurar os motivos dessa ansiedade, e acabam atribuindo essa ansiedade ao boleto que está atrasado, a um financiamento que ela não vai conseguir pagar, e assim por diante”, destaca.
Segundo o professor, esse é um erro de atribuição muito comum, já que a pessoa concentra naquilo que percebe serum elemento que causa ansiedade, mas, que na verdade, o estado de ansiedade das pessoas atualmente é crônico.
Como combater a ansiedade
Para Gonçalves, as pessoas deveriam tentar ficar offline durante uma boa parte do dia. “Isso é algo do ponto de vista de saúde mental higiênico, higiênico mesmo. As pessoas ficam com o celular na mão como se ele fosse uma extensão do próprio corpo, seja quando vão almoçar ou diante da televisão maratonando uma série de streaming, e ficam entre um episódio e outro procurando nas redes sociais alguma coisa para dar like”.
Por isso, o professor da FGV ressalta que a forma de reduzir a ansiedade como um todo é, antes de mais nada, repensar a relação com a tecnologia. Para isso, é preciso colocar o celular longe, não ficar diante da tela do computador, e se possível também não ficar no streaming.
“Ler um livro, jogar um jogo de tabuleiro, cuidar das plantas, brincar com o cachorro, fazer palavra cruzada, esses hábitos do século passado estão sendo necessários agora para descansar as áreas do cérebro que estão sobrecarregadas pelo excesso de contato com a tecnologia”, aponta ele.
A professora da FIA Businss School ainda afirma a importância de proteger a saúde mental. “Absorva somente o que interessa. Se possível, evite o excesso de notícias econômicas negativas, que só contribuem para aumentar a ansiedade. Busque boas válvulas de escape, exercícios físicos, meditação, sono adequado e rotina equilibrada”.
“Se perceber que sozinho não está dando conta, busque apoio: conversar com familiares ou profissionais (planejadores financeiros, psicólogos) pode ajudar a dividir a carga e diminuir a ansiedade, lembre-se de que do outro lado, está um profissional com conhecimento técnico e não está envolvido emocionalmente”, completa.
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Como cuidar das finanças
A pesquisa ainda aponta que, entre os brasileiros que se declaram altamente ansiosos, essa ansiedade se traduz em mudanças reais de comportamento, como:
- 77% planejam economizar mais;
- 75% devem evitar compras maiores;
- 46% pretendem priorizar produtos nacionais.
Aliado a esses pontos, Paula Sauer afirma que se planejar financeiramente é uma questão fundamental. “Fazer uma fotografia honesta de quanto se ganha e quanto se gasta de dinheiro. É de suma importância entender quanto custa o seu padrão de vida e verificar se este cabe nos seus rendimentos. Essa ‘fotografia’ reduzirá a sensação de perda de controle, a foto pode até não ser a mais bonita, mas dá clareza do contexto financeiro individual”.
Gestão das finanças
Com a clareza quanto a essas informações, a ideia é fazer uma gestão financeira, um orçamento realista, computando as entradas e saídas de dinheiro, separando despesas essenciais, as supérfluas e os investimentos.
“É importante montar, ou se organizar para construir uma reserva de emergência, um colchão financeiro para amortecer o impacto de acontecimentos imprevistos que cubra as responsabilidades financeiras do indivíduo por pelo menos seis meses. Isso trará mais tranquilidade, o que colaborará em muito para reduzir a ansiedade e tomar melhores decisões”, destaca a professora da FIA Business School.
Já no caso de dívidas, é importante analisar genuinamente os números, a origem do descasamento entre as receitas e as despesas, e negociar com credores. Uma dica é priorizar a quitação de dívidas caras (ex.: cartão de crédito e cheque especial).
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Analisar comportamento
Outro aspecto importante a partir da fotografia financeira é analisar o comportamento de consumo, verificar o que é imprescindível e o que é irrelevante e está consumindo parte dos rendimentos financeiros.
Neste caso, é preciso analisar gastos que podem ser eliminados definitivamente pois não fazem mais sentido. Considere também gastos que podem ser eliminados temporariamente, até que a receita e as despesas estejam alinhadas, ou ainda mudanças nos hábitos de consumo.
“Uma dica é verificar contas colocadas em débito automático, como assinaturas, de jornais ou revistas, streamings, academia (se você só paga, mas nunca vai). Algumas são muito úteis e inegociáveis, outras podem não fazer mais parte da sua rotina e fazem com que a receita não seja o suficiente para arcar com custos que realmente importam, que fazem os olhos brilharem, que nos trazem felicidade”, diz ela.
Pessimismo na economia e otimismo nas finanças pessoais
Outro recorte do estudo aponta que as pessoas costumam ser mais pessimistas em relação à economia em geral, ao mesmo tempo que se mostram otimistas nas finanças pessoais.
Com exceção de chineses e mexicanos, os entrevistados de todos os outros oito países acreditam que a economia irá piorar no segundo semestre de 2025. No caso dos brasileiros, 49% estão pessimistas, 34% acham que continua o mesmo e 17% acham que vai melhorar.
Mas, quando perguntados sobre as suas próprias finanças, 42% acham que a situação vai melhorar, 46% acham que nada muda e 16% acham que piora.
Para o professor de Economia Comportamental da FGV, o fato de que as pessoas podem estar mais otimistas com suas próprias finanças tem um nome. “Isso se chama viés de excesso de otimismo. Na verdade, é uma tentativa de tornar menos insuportável a tensão que vem das suas próprias finanças pessoais”.
Segundo ele, é mais fácil atribuir as pressões econômicas a algo mais distante, mais impessoal, como o desemprego, a inflação, a recessão, o tarifaço do Trump, do que reconhecer que está fazendo uma má gestão das próprias finanças.
“O nome disso é dissonância cognitiva. A gente tem uma impressão de nós mesmos, às vezes falsa, de que a gente sabe lidar com o dinheiro. A gente percebe que os boletos estão atrasando, e é mais fácil atribuir a causa disso a algo distante do que reconhecer que nós mesmos temos uma responsabilidade sobre isso. A dissonância cognitiva é uma atitude bastante ruim, no sentido de colocar coisas para baixo do tapete, e atrapalha muito as pessoas a saírem de situações financeiras difíceis e estressantes”, ressalta Robson Gonçalves
Paula Sauer, ainda descreve que essa contradição é explicada por três fatores psicológicos e por vieses comportamentais estudados na economia comportamental, entre eles:
- Viés de controle pessoal → quando se fala de “economia nacional”, a pessoa sente que não pode agir; já em suas próprias finanças, percebe maior capacidade de controle.
- Efeito proximidade → as decisões pessoais (pagar contas, poupar, investir) são mais tangíveis do que cenários macroeconômicos, que não estão exatamente em suas mãos.
- Comparação relativa → muitas pessoas ajustam suas expectativas: podem achar que o país vai piorar, mas acreditam que, com esforço, conseguirão “se virar” melhor do que a média.
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