O PT acusou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de planejar interferir diretamente nas eleições presidenciais de 2026 no Brasil para, segundo a legenda, tentar derrotar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com a nova resolução do partido, divulgada na noite deste sábado (23), o líder norte-americano pretende fazer um uso massivo das redes sociais e de ferramentas de inteligência artificial para influenciar na disputa.
O partido alega que a soberania do Brasil está sob ataque direto do governo norte-americano, como a imposição do tarifaço de 50% sobre os produtos nacionais associado às investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além das sanções impostas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), entre eles Alexandre de Moraes – sancionado com a Lei Magnitsky, que o impede de executar operações financeiras nos Estados Unidos.
“O que Trump e seus aliados da direita brasileira pretendem, e não terão êxito, é derrotar, nas eleições de 2026, o projeto de desenvolvimento nacional que estamos consolidando sob a liderança do presidente Lula”, aponta a resolução (veja na íntegra).
A nova resolução do PT é a primeira sob o comando do novo presidente partidário, o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva (PT-SP). Ele venceu a eleição interna no mês passado com apoio de Lula e um discurso mais aberto ao diálogo com os partidos de centro. Ele chegou a dizer recentemente que o presidente conseguiu chegar aos eleitores de Bolsonaro após o tarifaço dos Estados Unidos e as discussões sobre o IOF.
O novo documento do PT afirma que a ofensiva do governo Trump e de seus aliados brasileiros se dará com o “intenso uso da guerra híbrida, por meio das redes sociais e do uso da inteligência artificial”.
“Como instrumentos de disseminação de desinformação, teorias da conspiração e discursos de ódio contra grupos historicamente marginalizados, além de ataques sistemáticos aos governos progressistas. Esses mecanismos operam para desestabilizar instituições, corroer a confiança pública e fomentar a violência política, representando uma ameaça direta à democracia e ao Estado de Direito”, pontua o documento.
O partido retoma a defesa pela regulação das big techs – as grandes empresas de tecnologia que controlam, principalmente, as plataformas de redes sociais – como “imperativa” contra o que chama de “instrumentos do imperialismo estadunidense”. “Essas corporações estrangeiras impõem lógicas privadas de mercado em detrimento da soberania dos países e do interesse público”, completou.
A resolução também critica o que chama de “ataques sistemáticos contra governos progressistas” conduzidos pelos Estados Unidos. Para a legenda, existe um caráter prolongado de avanço de um suposto golpe de Estado e o crescimento do que considera como “fascismo” no Brasil e no mundo.
“A defesa da anistia aos golpistas e a tentativa de subverter e interferir no julgamento dos bolsonaristas acusados de conspiração contra o Estado Democrático de Direito, e tentativa de assassinato de Lula, Alckmin e Moraes, são a continuidade da tentativa de golpe de Estado gestado ao longo do governo de Jair Bolsonaro e intentado no dia 08 de janeiro de 2023”, afirma o documento.
Além da nova resolução e da reorganização interna, com a nomeação de novos titulares em postos-chave da legenda, o PT prepara mobilizações para o dia 7 de Setembro, quando pretende ocupar as ruas em contraponto às manifestações convocadas por apoiadores de Bolsonaro. O julgamento do ex-presidente no STF começa no dia 2 de setembro e seguirá até o dia 12.
“Estamos convocando o 7 de Setembro para que ele seja nacional, ocorra em todos os estados”, declarou Edinho Silva.
Ele ainda destacou que o partido vai trabalhar pela ampliação da federação partidária, atualmente composta por PT, PCdoB e PV, além de disputar o apoio de legendas do centrão, consideradas essenciais para garantir estabilidade ao governo Lula. Desde a semana retrasada, o presidente vem se reunindo com dirigentes partidários para tentar amarrar um apoio contra o lançamento de candidaturas próprias ou o fechamento de um nome único da direita – como o União Brasil, que já tem o governador goiano Ronaldo Caiado (União-GO) como pré-candidato, e o PP, que pode se unir ao Republicanos para lançar Tarcísio de Freitas (SP).
“Vamos disputar essas lideranças até o fim. Se elas quiserem estar conosco, serão bem-vindas”, seguiu Edinho.
No texto aprovado, o PT sustenta que “o enfrentamento ao imperialismo, aliado à extrema direita bolsonarista, ao fascismo e ao neoliberalismo deve ocorrer em duas frentes complementares: por meio de mobilizações populares, nas ruas e nas redes, e pela construção de amplas alianças nacionais e internacionais, articuladas também no plano institucional e diplomático”.
A legenda afirma que esse bloco precisa se expressar tanto na disputa política quanto eleitoral em 2026, para “barrar a extrema direita, o imperialismo e o fascismo representados pelo governo Trump e pelas lideranças hegemonizadas por Bolsonaro”. Segundo a resolução, a prioridade também é formar alianças locais nos estados, com o objetivo de fortalecer a candidatura à reeleição de Lula e ampliar bancadas no Congresso Nacional.
“Diante desse quadro, é imperativo colocar no centro da nossa atuação a construção de uma ampla aliança em defesa da soberania e da democracia, sob a liderança do Presidente Lula. Em cada estado do Brasil, atuaremos para formar coligações potentes que fortaleçam o projeto de reeleição, garantam maioria no Senado e na Câmara e sustentem o desenvolvimento nacional que já está em curso”, pontuou o partido no novo documento.
O documento conclui defendendo que o país não pode retornar a um projeto conservador e excludente, associando a luta pela democracia à defesa de justiça social, desenvolvimento sustentável e soberania popular.
Deixe um comentário