Este episódio do Podcast 15 Minutos, explora as tensões geopolíticas envolvendo o Brasil e os Estados Unidos. Os apresentadores discutem a sanção de um ministro brasileiro pela Lei Magnitsk, ressaltando que ele é o único punido por essa lei, embora outros brasileiros estejam em listas de sanções por diferentes motivos, como ligações com organizações terroristas ou criminosas envolvidas com tráfico de drogas.
O podcast também aborda a intensificação do combate ao narcotráfico pelos EUA, incluindo a potencial classificação de grupos brasileiros como terroristas e a situação na Venezuela, onde o presidente Nicolás Maduro é investigado por narcotráfico.
Por fim, a conversa se volta para a preocupação dos EUA com a crescente influência chinesa na América Latina, particularmente no agronegócio brasileiro, e as investigações de inteligência em andamento.
EUA sancionam ministro do STF e ampliam pressão geopolítica sobre o Brasil
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi oficialmente sancionado pelo governo dos Estados Unidos por meio da Lei Magnitsky, dispositivo que permite punir agentes estrangeiros acusados de graves violações de direitos humanos ou corrupção. A inclusão do magistrado na lista do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), órgão do Departamento do Tesouro norte-americano, impede que ele mantenha ativos ou realize transações com pessoas e entidades americanas.
Embora haja outros 16 brasileiros na lista do OFAC, Moraes é o único punido especificamente pela Lei Magnitsky. Os demais foram incluídos por diferentes fundamentos legais, como envolvimento com organizações terroristas — a exemplo do Hezbollah e do Hamas — ou ligação com o tráfico internacional de drogas, caso de membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), grupo que também figura entre as entidades sancionadas.
Combate ao narcotráfico e tensão diplomática
Desde o segundo mandato de Donald Trump, os Estados Unidos adotam medidas mais duras contra o narcotráfico, com foco especial no combate aos opioides, como o fentanil. Uma das estratégias foi classificar cartéis e facções criminosas como organizações terroristas. A medida já foi aplicada a grupos mexicanos e colombianos, e agora há uma pressão para incluir facções brasileiras, como o PCC e o Comando Vermelho, nessa lista.
O tema gera atritos com o governo brasileiro, que se opõe à classificação. Em 2024, o FBI revelou ter identificado células do PCC em território americano, operando no tráfico de drogas e armas.
A postura de Washington já produziu efeitos na política latino-americana. O cartel de “Los Soles”, ligado ao narcotráfico e ao governo da Venezuela, foi classificado como organização terrorista, com o presidente Nicolás Maduro apontado como um de seus líderes. A recompensa por informações que levem à sua captura foi elevada para US$ 50 milhões.
Nos bastidores, especula-se que os EUA possam autorizar operações militares para prender líderes estrangeiros ligados ao crime organizado. Em maio deste ano, forças especiais americanas teriam realizado, de forma secreta, o resgate de opositores de Maduro que estavam refugiados na embaixada da Argentina em Caracas.
Agronegócio e influência chinesa
Outra frente de tensão envolve a relação do Brasil com a China. Um projeto de lei em tramitação no Congresso americano, o Intelligence Authorization Act, prevê que a Diretoria Nacional de Inteligência dos EUA produza, em até 90 dias, um relatório sobre a atuação chinesa no setor agropecuário brasileiro.
A medida reflete a preocupação de Washington com a expansão da influência econômica da China na América Latina, especialmente após a pandemia, que expôs a dependência global de produtos e insumos chineses. No caso brasileiro, quase 70% da soja exportada tem como destino o mercado chinês.
Além da pauta agrícola, os EUA já anunciaram investigações econômicas sobre setores estratégicos do Brasil, como serviços digitais, propriedade intelectual e sistema de pagamentos.
Relações em alerta
Os movimentos recentes indicam um cenário de crescente atrito entre Brasília e Washington. De um lado, o Brasil fortalece laços comerciais com Pequim; de outro, enfrenta desconfiança americana em áreas sensíveis como segurança, combate ao crime organizado e defesa estratégica.
A inclusão de um ministro do STF na mesma lista que chefes do narcotráfico e líderes de grupos terroristas adiciona um componente inédito às relações bilaterais, abrindo espaço para novos embates diplomáticos e jurídicos nos próximos meses.
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