O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), propôs a saída do Brasil do Brics, bloco econômico encabeçado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Ele associou o bloco a regimes autoritários. Além disso, culpou o alinhamento do Brasil aos Brics pelo “tarifaço” dos EUA.
Para Zema, os Brics são “uma ferramenta útil apenas para um grupo de líderes autoritários que gostam de sinalizar sua oposição ao mundo ocidental, particularmente contra os Estados Unidos”. Por isso, ele relaciona a postura do Brasil no bloco à sobretaxa dos EUA, confirmada para começar a ser aplicada a diversos produtos exportados na próxima quarta-feira (6).
Zema ainda avalia que a presença brasileira nos Brics afasta os EUA da relação com o país. “Boa parte da culpa pelo tarifaço que enfrentamos hoje tem origem justamente nesse alinhamento errático”, afirma.
Além disso, Zema critica a falta de integração econômica no bloco. “Não há nenhum elo cultural ou geográfico entre seus membros. Tampouco é um bloco comercial. Não há zona de livre-comércio, não há acordos tarifários, nem fluxos privilegiados de investimento.”
O grupo Brics surgiu em 2009, com Brasil, Rússia, Índia e China. A África do Sul juntou-se em 2011. Outros cinco países aderiram em 2023: Irã, Egito, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. A Indonésia, por sua vez, uniu-se ao bloco em 2024.
VEJA TAMBÉM:
Zema aponta OCDE como alternativa ao Brasil
Em vez dos Brics, Zema defende o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 38 países. Juntos, seus membros somam mais de 60% do PIB mundial.
Zema acredita que a entrada na OCDE representaria um compromisso com o Estado Democrático de Direito. “Compromisso com as boas práticas de governança, com a transparência fiscal e com marcos regulatórios modernos”, elenca o governador mineiro. O Brasil recebeu sinal verde para iniciar o processo de adesão em 2022. Contudo, o país ainda não concluiu as etapas exigidas.
Em 2022, a OCDE reconheceu o trabalho do governo de Minas na implementação de políticas voltadas para a reforma regulatória, pela qual se busca alcançar a maior promoção do bem-estar econômico e social dos cidadãos, como elevação do nível de emprego e de renda, proteção à saúde e ao meio ambiente e melhorias na educação.
Em março deste ano, o governo de Minas e a OCDE iniciaram negociações para firmar um acordo de cooperação técnica voltado ao combate à corrupção. A iniciativa busca aprimorar as políticas de integridade, transparência e governança pública no estado. A proposta foi apresentada pela própria OCDE durante o Fórum Global de Integridade e Anticorrupção 2025, realizado em Paris.

Zema critica política externa do governo Lula
Zema lembrou da entrada do Brasil nos Brics pelo governo petista, em 2009. Segundo ele, a origem do bloco “está ancorada na mesma lógica maniqueísta do confronto entre ricos e pobres que o PT sempre propagou”. Para o governador, esse discurso faz o país “dar as costas” aos seus princípios e afasta aliados históricos.
O governador também defende que o Brasil retome laços com democracias ocidentais. “O Brasil é um país ocidental. Nossas instituições estão alicerçadas na tradição cristã, no respeito pela liberdade e pelos valores humanistas”, afirma ele.
A última cúpula do Brics ocorreu no início de julho no Rio de Janeiro. O Brasil ocupou a presidência rotativa. Na ocasião, o grupo retomou o debate sobre criar um sistema de pagamentos alternativo ao dólar. A proposta reacendeu críticas à postura geopolítica da organização.
Pacote de R$ 300 milhões para mitigar impacto de tarifas dos EUA
O governo de Minas anunciou na última terça-feira (29) um pacote de R$ 300 milhões para apoiar empresas prejudicadas pelo aumento de tarifas aplicado pelos Estados Unidos. Segundo Zema, o plano prevê R$ 200 milhões em crédito subsidiado via Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e a devolução de R$ 100 milhões referentes a valores retidos de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de exportação.
O foco da medida está em setores com maior exposição ao mercado americano, como o agroindustrial, o siderúrgico e o de máquinas e equipamentos. “Vamos apoiar quem mais precisa neste momento. Não é justo que as empresas mineiras arquem sozinhas com o custo da má condução diplomática do governo federal”, disse Zema.
Dados da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) mostram que o estado é o terceiro maior exportador brasileiro para os Estados Unidos. Em 2024, as vendas mineiras para o mercado norte-americano somaram US$ 4,62 bilhões, o equivalente a 11,4% do total nacional. Entre os produtos mais exportados estão café, aço, produtos químicos inorgânicos e máquinas elétricas. Com a imposição das tarifas, empresas desses segmentos já estimam queda nas receitas e revisam planos de investimento.
O pacote mineiro se soma a iniciativas semelhantes anunciadas por outros governadores, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO) e Eduardo Leite (PSD-RS), todos cotados para a disputa presidencial de 2026. O partido Novo deve lançar a pré-candidatura de Zema à Presidência em 16 de agosto.
Deixe um comentário